It - Capítulo 2 | Crítica
- Carol Santoian
- 9 de set. de 2019
- 3 min de leitura

Após o sucesso de IT: A Coisa em 2017, o diretor Andres Muschietti retorna às salas de cinema com a parte final da história do Clube dos Otários e alguns desafios narrativos. O resultado é um filme arrastado, que reproduz as fórmulas já conhecidas do filme anterior, mas que funciona como um entretenimento despretensioso.
Antes de comentar qualquer coisa sobre o novo filme, preciso falar um pouco sobre a obra original de Stephen King. Apesar de ser fã do autor e reconhecer a importância do livro de mais de mil páginas, It não é o meu favorito de King (nem está perto disso). A história do grupo de amigos que precisa voltar para Derry e derrotar seus medos e traumas de infância (personificadas no palhaço Pennywise) condensa tudo que há de melhor na literatura do mestre do terror - a amizade como tema central (assim como em Stand By Me), a cidade estranha que guarda segredos (oi, Salem's Lot!) e a capacidade do autor de abordar nossos medos mais primitivos - mas também evidencia vários problemas recorrentes em livros do autor: a prolixidade com cenas desnecessárias, o uso exagerado de criaturas bizarras que muitas vezes não fazem sentido e os finais ruins (alguém tem dúvida que o final de It é o pior já escrito por ele?).
Todos esses elementos estão nas duas partes da adaptação cinematográfica. E, se por um lado isso contempla os fãs mais puristas da obra, por outro, isso prejudica a dinâmica dos filmes, que evidenciam ainda mais as "barrigas" presentes no livro. A decisão narrativa de dividir a história em dois tempos bem distintos (as crianças no primeiro e os adultos no segundo), faz com que esse segundo capítulo pareça um déjà vu do primeiro - uma repetição da estrutura, criando uma espécie de fórmula que engessa o roteiro de tal forma que temos a sensação de que já vimos aquilo (e já, só que com os personagens 27 anos mais jovens).
Diferente do filme de 2017, em It - Capítulo 2, o terror é muito mais físico do que psicológico. O uso exagerado de jump scares e as várias cenas em que certo personagem é posto em risco e nada acontece faz com que o segundo ato pareça lento e previsível. O resultado é um emaranhado de situações dramáticas que ocorrem isoladamente com cada um dos protagonistas, mas que se repetem e tiram a força do terror - o medo se perde e dá espaço para cenas grotescas, que, no lugar de assustar, beiram o ridículo.
Mas há coisas interessantes também. Em raros momentos de originalidade, o filme consegue ao mesmo tempo prestar homenagem e sair da zona de conforto da obra original. Um exemplo disso é a piada em torno de Bill - uma espécie de alter ego do próprio Stephen King - não conseguir escrever bons finais para seus livros. Como eu disse lá no começo, o final original de It é, no mínimo, duvidoso. O filme reconhece isso de forma respeitosa, como uma espécie de aviso: "Ei, nós vamos mudar o final, tá? Amamos o livro, mas o final é péssimo" e o próprio King faz uma pontinha pra nos dizer que concorda. E após quase três horas de longa, o filme realmente nos entrega um fechamento coerente e satisfatório para a história, com algumas composições interessantíssimas de cena (como a que Bev e Ben se salvam) e referências às obras e adaptações mais famosas do autor (here's Kubrick!).
De um modo geral, apesar do roteiro truncado e pouco ousado, Andres Muschietti nos entrega um filme que cumpre sua proposta, com momentos engraçados, nostálgicos e com muitas homenagens ao gênero (e ao criador da obra). É um bom entretenimento, mas que apenas flutua na superfície do medo.
Comments